Primeiramente
porque arte e espiritualidade não precisam ser coisas destoantes. Orar e
sacrificar aos deuses antigos é como sentir-se dentro de uma das obras
de Waterhouse ou de Poussin, é sentir a beleza de ver um altar com velas
e incensos ardendo, de imagens refletidas nele que foram desenhadas
pelos maiores gênios da história da humanidade. É poder usar, em minhas
orações, trechos da poética milenar de Hesíodo ou Homero, da mesma forma
que não encontro problemas conciliar essas palavras que saem da minha
boca com as músicas que entram no meu ouvido, que podem ser desde as
estações de Vivaldi, dos caprichos de Paganini ou simplesmente a música
simples e rústica de batidas de palmas ou do sopro que sai das flautas.
Segundo
porque a Natureza é plural em suas manifestações. É variada em suas
espécies e em suas respectivas moradas, de modo que todo o ser vivo,
qualquer que ele seja, sempre carregará interna ou externamente
características que o diferenciam de outros semelhantes. E se nenhuma
manifestação da vida é igual à outra, se nenhuma consciência humana
pensa exatamente como a outra, se nenhum fenômeno da natureza age de
forma previsível e exatamente igual de outro momento, por que deuses
também não poderiam ser plurais, justamente para cada um reinar sobre
seu domínio específico, organizando então um cosmos organizado e coerente?
E
ainda que tudo isso, por mais plural que o seja, ainda tenha de
compartilhar o mesmo ar ou viver no mesmo planeta ou no mesmo Universo,
isso não rompe com o discurso de pluralidade? Não, ao meu ver, pois em
última instância não encontrei ninguém que negasse uma Causa Primordial
ou um Uno criador. Apenas o que eu encontro são pessoas que crêem que,
depois de uma força geradora unificada, existe então a pluralidade, na
qual, todos podemos contatar e vivenciar.
Não
acredito que Deus nos tenha feito à Sua imagem e semelhança. O que eu
creio é que os homens fazem seus deuses, à sua imagem e semelhança. Eis o
porque da riqueza de todas as culturas ao longo da história, que à sua
forma, temeram e amaram seus deuses. Deuses que nascem, amadurecem, se
transformam e por vezes também morrem. Tal como seus filhos.
Poderia,
então, resumir minha fé em dois pilares essenciais: arte e
reconhecimento. Arte por reconhecer a beleza e a feiura em todas as
coisas, reconhecimento por ver na pluralidade, expressões de arte.
Fonte: http://www.diannusdonemi.com/
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